Romance juvenil retrata angústias do amadurecimento.
Dizer que a adolescência é uma fase difícil para se conviver já virou lugar comum. Mas o que a maioria dos adultos esquece é que essa é uma etapa da vida difícil principalmente para quem está passando por ela. Todos os males do mundo parecem recair sobre essas jovens criaturas que estão apenas começando a descobrir os prazeres da vida – e muitos ainda nem lhe são permitidos. No romance juvenil Eu, meu cachorro e meus pais separados, a escritora Letícia Sardenberg se apropria do universo adolescente com maestria para traçar um retrato cativante dos altos e baixos da vida de uma garota em pleno estado de transformação. Letícia estará autografando o livro nesse domingo (08/9), às 16 horas, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rio de Janeiro). Então, se depois de ler a resenha tiver curiosidade para conhecer o livro, passa lá!
Eu, meu cachorro e meus pais separados
“Não sou mais uma menina,/nem mulher eu me tornei./Me mostro, me escondo,/procuro por mim,/mas não me encontro”, antecipa Letícia no poema que abre o livro. Daí já dá para ter uma ideia das angústias que aguardam Ariane, a jovem protagonista com seus 15 anos recém-completados. Afinal, adolescer não é nada fácil. São tantas as escolhas a fazer, e todas elas com inúmeras possibilidades de se tomar a decisão errada. Qual biquini escolher para ir à piscina com os amigos, acreditar ou não que aquele vizinho gato está mesmo a fim de você, continuar morando com a mãe ou se mudar para a casa do pai e conviver com a madrasta que ela nem conhece direito… Assim como as demais jovens da sua idade, Ariane enfrenta todas essas situações com igual empenho e sofrimento, já que crescer, em última e definitva instância, significa sofrer.
Quando todos os seres humanos parecem existir apenas para lhe trazer mais problemas, nada melhor do que ter um cachorro que incorpora o lema de ser o melhor amigo do homem – e das garotas de 15 anos. Rufus, o labrador cor de marfim com direito a figurar no título do livro, é o porto seguro que Ariane não encontra nem em sua mãe – com quem compartilha momentos de companheirismo alternados por discussões intensas -, nem em seu pai – muito mais preocupado com a nova família que está prestes a formar -, nem nas amigas – já que decepção é um artigo nem sempre raro nas prateleiras da amizade.
Ariane escolhe o leitor como confidente de uma história que vai sendo construída bem à nossa frente e que, independente de muitas vezes a garota não ser realmente a pessoa mais agradável do mundo, não é nada difícil simpatizarmos com suas pequenas (ou grandes) batalhas diárias. Isso graças à construção precisa da autora, que nesse romance juvenil sabiamente fugiu dos estereótipos vigentes e criou uma personagem de carne e osso, com todos os irritantes exageros da idade mas também com toda a adorável capacidade de se reinventar a cada novo desafio.
Destaques do livro
Um dos méritos desse romance juvenil é o tom escolhido pela autora para conduzir a história. Em vez de limitar-se a apenas observar Ariane, Letícia pega a personagem pela mão e a acompanha tão de perto que é quase possível sentir na pele a ansiedade da garota por encontrar o garoto dos seus sonhos ou então a irritação com o comportamento autoritário da madrasta. Para muitas leitoras poderá até mesmo ser uma sensação de déja vu, já que os dilemas tão pessoais são, ao mesmo tempo, tão universais.
Esse tom confidencial, de quem compartilha segredos íntimos, é reforçado pela escolha do narrador em primeira pessoa. Ao dar voz à própria Ariane, e não a um narrador externo, a autora permite que a personagem se exponha de forma que não seria possível de outra maneira. O ponto de vista pessoal reforça as sensações vividas por ela e tornam-as muito mais críveis aos olhos do leitor. Soma-se a isso a linguagem descontraída e tão familiar à nova geração de leitores, que encontrarão nas páginas do livro mais do que uma história, e sim um espelho de suas próprias vivências.
Fica a dica: se está escrevendo para adolescentes, aproprie-se de seu universo, mergulhe em suas dúvidas, medos, expectativas e, principalmente, modo de ver a vida. Isso se reflete, e muito, na forma como eles se expressam. Não dá para falar de algo que não se conhece. Se você não convive com um adolescente, faça algum tipo de laboratório, procure estar onde eles estão, converse com eles, entenda suas escolhas. Evite os preconceitos desnecessários e sem fundamentos. Afinal, ser chamado de “aborrecente” é uma das coisas mais irritantes que existem, já disse Ariane.
Eu, meu cachorro e meus pais separados
Letícia Sardenberg
Illustrações: Patrícia Melo
Zit Editora, 2013
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