Casal literário: Alex Gomes e Cris Alhadeff.
Literatura infantojuvenil é um casamento perfeito entre texto e imagem. A autoria é dividida entre o autor do texto e o ilustrador, que é o autor das imagens que contam a história junto com o texto. E quando essa parceria extrapola os limites da literatura e adentra o universo pessoal podemos dizer que há um casamento mais do que perfeito? Vamos saber como é esse casamento entre escritor e ilustradora conversando com o casal literário Alex Gomes e Cris Alhadeff.
Dividindo a casa e a mesa de trabalho
São 20 anos juntos, sendo que o primeiro trabalho de Literatura Infantojuvenil (ou LIJ, para os íntimos) a quatro mãos aconteceu apenas em 2010. Inicialmente começaram trabalhando juntos com webdesign, em 1999, e a dedicação à LIJ só se tornou mais intensa com o nascimento dos dois filhos do casal. Alex Gomes, o escritor, foi quem deu os primeiros passos na área, lançando seu primeiro livro em 2008. Agora já são 13 livros publicados com o nome Alexandre de Castro Gomes na capa e outros 12 com contrato ou para serem lançados em breve. Cris Alhadeff, a ilustradora, já emprestou seu traço para 20 livros e está com mais seis contratados ou em produção. Isso sem falar nas coletâneas que os dois participaram. Juntos já fizeram seis livros: Condomínio dos Monstros, Festa do Calendário, Como pode um pinguim no Polo Norte?, O porteiro do Condomínio dos Monstros, Aniversário no Cemitério e A Princesa Irada e o Príncipe Sinistro, este último ainda inédito e sem contrato.
Como leitores, especialmente de LIJ, quais são suas referências?
Alex: Hélio do Soveral, Stella Carr, João Carlos Marinho, Monteiro Lobato… Mas tem muito mais. Fica difícil listar todos. Os três primeiros escreviam policiais juvenis, com turmas de jovens detetives solucionando mistérios. Eu adorava isso. O Hélio assinava a coleção “A turma do Posto Quatro” (minha favorita) como Luis de Santiago. Stella Carr escreveu a coleção dos irmãos encrenca (“O enigma do autódromo de Interlagos”, “O incrível roubo da loteca”, “O fantástico homem do Metrô”…). O João Carlos Marinho é autor de “Gênio do crime” e de outros livros da turma do gordo. Ah! Eu também gostava muito da coleção da Inspetora e sua patota da coruja de papelão, do Ganymédes José (ou Santos de Oliveira), e do trio de investigadores do Marcos Rey (Léo, Gino e Ângela em “O Mistério do Cinco Estrelas”, “Um cadáver ouve rádio”, “O rapto do garoto de ouro” e “Um rosto no computador”). É melhor eu parar aqui ou vou ficar me lembrando de outros.
Cris: Falando sobre referências logo me me lembro do “Rei de Quase Tudo”, do Eliardo França (houve um tempo em que eu sabia de cor); “Ou Isto ou Aquilo”, de Cecília Meireles; “O Menino Mágico”, de Raquel de Queirós com as lindas ilustrações de Gian Calvi; “Spharion”, de Lúcia Machado de Almeida. Muitos livros do Babar, Bécassine e Tintin – que vieram da infância da minha mãe, que tinha vários títulos dos “little golden books” – também têm seu espaço nas minhas referências. Um em especial me deixava inquieta pelas suas ilustrações. Era o “Little Black Sambo”, da Helen Bannerman, com ilustrações de Gustaf Tenggren (os trigres que perseguiam o menino viravam panquecas). De lá pra cá coleciono autores queridos que levo comigo em cada traço.
Vocês dois já disseram que os filhos os aproximaram da LIJ. Como é escrever tendo dois representantes do seu público-alvo dentro de casa? Eles são muito críticos? Qual o peso da crítica deles em relação à das outras crianças?
Alex: As crianças foram o empurrão que a gente precisava para se dedicar à LIJ com mais seriedade. Eu acho maravilhoso que os dois participem da minha criação. Escrevi um livro sobre pinguins porque a minha filha me pediu. Os dois influenciaram ainda no destino de um ou outro personagem. Tenho um trabalho, ainda inédito, sobre pequenas histórias de terror para crianças, que precisei dar uma suavizada porque minha filha ficou com muito medo. Quer dizer, a ideia era passar um pouco de medo mesmo, mas ela ficou muito assustada. Eu acho bom isso porque me lembra para quem o texto é direcionado. As vezes o autor se empolga e sai do infantojuvenil para o adulto em uma frase. Meus pequenos críticos me lembram disso todas as vezes que a história fica muito complicada. O peso da crítica deles é ainda um pouco maior porque são meus primeiros leitores mirins. As vezes os únicos antes do livro estar pronto. Algumas vezes me inspiro neles também. Em meus dois livros de viagens interativas, o personagem principal tem o nome do meu filho. Não é coincidência.
Cris: Desenho com eles olhando sobre meus ombros. Eles opinam muito e levo muito a sério suas impressões porque sei que são consumidores críticos e exigentes.
No livro Aniversário no Cemitério os desenhos de vocês no perfil foram feitos pelo Guilherme, filho de vocês. Eles já demonstram interesse em seguir a carreira dos pais?
Alex: Sempre! Os dois desenham muito! E a minha filha já escreveu um monte de pequenos textos sensacionais. Meu filho também escreve, mas acho que ele curte mais ilustrar. Espero fazer alguma coisa em família em um futuro próximo. Já pensou? Um livro a oito mãos? Nosso polvo literário?
Cris: Tenho certeza de que daqui há alguns anos estaremos produzindo em família. Vai ser o máximo!
Quando vocês fazem um livro em conjunto, como é o processo de criação: vão construindo texto e ilustras ao mesmo tempo ou segue o formato tradicional de o texto preceder a ilustração? Em que difere o processo de criação de vocês quando fazem um livro juntos do que quando fazem com outros profissionais?
Alex: Depende do livro. Antes que eu começasse a escrever o “Aniversário no cemitério” a Cris já tinha vários personagens prontos. Enquanto ela criava os personagens, eu emendava as palavras. Já aconteceu de eu criar um texto em cima de uma ilustração dela. Mas trabalhamos também no formato tradicional. Afinal não é sempre que ela tem tempo de ilustrar um livro meu antes dele ser contratado.
Cris: A diferença no processo de criação existe. Afinal, ele está ali para testemunhar os primeiros sinais de um rascunho e, às vezes, sinalizar que imaginava de uma ou outra forma. A comunicação também é mais rápida, no que se refere a aprovar, criticar e adicionar sentimentos ou detalhes.
O que mais chama a atenção de vocês em um livro infantojuvenil? E o que os surpreende?
Alex: Eu gosto de humor. Adoro humor negro. Aliás, qualquer humor é fundamental. Mas o imprescindível é ter uma boa história para contar. É difícil criar uma história que ainda não foi contada e é aí que está o maior desafio. Alguns autores me surpreendem. O Renato Moriconi é um deles.
Cris: Além da ilustração, é claro – que é o que me leva a buscar o livro na prateleira –, me chama a atenção o imprevisível, o inusitado. Amo ser surpreendida no final do livro com um desfecho que não esperava.
Existe certo preconceito com alguns tipos de LIJ. Alex já comentou em uma rede social que tem respeito por autores como J. K. Rowling e Jeff Kinney (de O diário de um banana) porque com seus livros eles ajudam a formar o hábito da leitura, a criar leitores. Vocês acham que esse é o papel da LIJ, a formação de leitores? E qual a melhor forma de fazer isso?
Alex: É um dos papéis mais importantes, mas não o único. Formar leitores, divertir, educar, mostrar costumes, apresentar culturas, estimular a criatividade… Depende do texto. Quem lê sobre um castelo, logo imagina as torres, o fosso… A imaginação completa as lacunas da história e nos coloca dentro dela. Mas eu creio que, embora seja muito importante, o autor de LIJ não deve se prender somente a este princípio. Não é sempre que eu penso se o leitor gostará do que escrevo. Muitas vezes o faço porque quero. Porque sinto necessidade de falar sobre aquilo, mesmo que ninguém queira me ouvir. Creio que é possível escrever livremente, sem objetivos definidos, embora isso possa significar ter o texto na gaveta para sempre. Afinal, dependemos do aval do editor e, ultimamente tem sido cada vez mais comum, do departamento comercial da editora. Mas, por outro lado, há sempre o blog. A melhor maneira de formar leitores é dando o exemplo em casa. Eu leio muito e meus filhos veem isso. Vamos sempre à livraria. Temos livros em casa. Quando a família, a escola e o Governo se juntam em prol da cultura, tudo pode dar certo. Agora se uma destas três pontas falhar, o resultado é duvidoso.
Cris: Acho que qualquer forma de literatura é válida. Se aproxima alguém de um livro, está valendo. Adoro Jeff Kinney. As crianças vibram porque se encontram nos enredos dele, que são engraçadíssimos. Acredito que a formação de leitores é uma luta contra a preguiça, contra o mundo pasteurizado e a receita pronta de bolo oferecida nos canais abertos. Existem tantos perfis literários que, se houver o interesse, não acredito na possibilidade do não gostar de ler.
Que dica vocês dão para quem pretende ser escritor ou ilustrador de LIJ e não sabe como entrar no mercado editorial?
Alex: Frequente feiras de livros, conheça as pessoas, se apresente, participe de oficinas, leia muito, escreva muito, ilustre muito, faça cursos, assista a debates e palestras de autores de texto e imagem, procure concursos literários… Mole.
Cris: Complementando: Acho que hoje em dia a internet torna mais fácil chegar perto dos nossos objetivos. Podemos estudar imagens de todo mundo, conhecer autores, ler entrevistas e interagir com esse universo de uma forma que seria impossível há alguns anos.
Quem quiser conhecer mais o trabalho dos dois é só visitar os sites:
Alexandre de Castro Gomes: http://www.blogao.com.br/
Cris Alhadeff: http://www.crisalhadeff.com/
E você, já conhecia o trabalho do Alex e da Cris?
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