Como escrever um conto

Como escrever um conto.

Pela primeira vez o Prêmio Nobel de Literatura foi dado a um contista. Quebrando a primazia do romance, desde sempre considerado um gênero maior e mais “sério” do que o conto, este ano o prêmio foi para Alice Munro, escritora canadense considerada a “mestre do conto”. Em entrevista ao site do Nobel, Munro disse que espera que o reconhecimento traga mais leitores não só para ela como para o conto em si. “Porque é muitas vezes desmerecido como algo que as pessoas fazem antes de escrever o primeiro romance. E eu gostaria que chegasse ao primeiro plano, sem condicionantes, de maneira que não precise haver um romance”, declarou. Mas, ao contrário do que os que discriminam o gênero pensam, escrever contos não é tarefa simples. Veja abaixo algumas dicas de como escrever um conto.

Dicas de como escrever um conto

Júlio Cortázar costumava dizer que “um conto é uma verdadeira máquina de criar interesse” e, para exemplificar como enxergava a construção narrativa do gênero, criou essa comparação entre a ficção e o boxe que ficou famosa: “O romance vence o leitor sempre por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute”. Mas como exatamente nocautear o leitor, deixá-lo sem fôlego ao terminar a leitura e com aquele deslumbramento na alma? Reunimos abaixo algumas dicas retiradas da experiência desses grandes contistas para mostrar como escrever um conto.

como escrever um conto

  • É importante saber que o conto se diferencia do romance não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura. Há poucos personagens, geralmente apenas um núcleo narrativo, não há complicação no desenrolar dos fatos e há um único clímax da história

  • Escolha uma situação para narrar. Ao contrário do romance, em que haverá um longo desenvolvimento, no conto você pode pegar um acontecimento isolado e explorá-lo, sem necessidade de explicações anteriores ou posteriores

  • Escolha o tempo em que se passará a sua história. Não pode ser um tempo muito longo, senão você não conseguirá dar conta do seu objetivo. Narrativas curtas pedem lapsos temporais curtos
  • Tenha em mente, antes de começar a escrever, como a situação irá se desenrolar, que rumo tomará e que objetivo você pretende alcançar no final. Como o conto é uma narrativa concisa, é importante que você conheça em linhas gerais toda a sua história
  • Antes de começar a escrever o texto, estabeleça a seguinte estrutura: exposição, conflito, clímax e desfecho

  • Comece apresentando seu personagem, mas o coloque agindo e não o apresente com descrições. Como estamos trabalhando com um texto curto, aproveite uma cena do seu conto para inserir o personagem. Em vez de uma lista de características, o leitor verá o personagem em ação e, a partir de seus comportamentos, de como ele age e reage é que irá conhecê-lo

  • Explore o início. Comece sua história com um ponto de vista inusitado, um fato que pode parecer irrelevante a princípio mas que terá papel fundamental mais tarde – quem sabe até no final arrebatador

  • Escolha cuidadosamente suas palavras. Não há espaço para desperdício. Cada palavra deve ter um função explícita dentro da história. Você deve ter total consciência de por que a escolheu e que efeito quer conseguir com ela

  • Não seja detalhista demais. Lembre-se de manter a concisão na narrativa. Deixe os pormenores para o romance e trabalhe um ritmo mais intenso de escrita

como escrever um conto

  • O final, segundo Cortázar, deve ser explosivo, arrebatador! Então surpreenda o leitor, deixe-o eufórico com o desfecho de sua história. Mas para isso funcionar é preciso que quando você comece a escrever o conto você já saiba o final. Todo o desenrolar da história deve ser construído para desembocar no grande final, mas para isso você tem de saber para onde está caminho, ter o controle dos acontecimentos.

Agora que você já sabe as premissas iniciais sobre como escrever um conto, acha que eles são mais simples do que os romances?

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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