A arte de prolongar a pausa do tempo.
Qual a grande reclamação dos tempos modernos? Falta de tempo costuma ser a resposta mais ouvida. Ainda não se descobriu nenhum método eficiente para esticar o tempo nosso de cada dia, então seguimos acumulando tarefas e obrigações sem direito a pausa. Alguns conseguem, no entanto, interromper esse fluxo cruel e permitem-se olhar para esse “mundo, vasto mundo” sem olhos apressados e descuidados. E alguns, ainda que em menor número, permitem-se compartilhar com os outros este olhar demorado sobre o que nos rodeia. A escritora, jornalista e agente literária Valéria Martins faz parte deste último grupo, e o resultado dessa reflexão compartilhada é o livro A pausa do tempo, cuja resenha trago a seguir.
A pausa do tempo, o livro
“Acho que isso é envelhecer: perder a capacidade ou a coragem de se aventurar”, escreve Valéria Martins em A pausa do tempo, livro que traz uma seleção de posts publicados no blog de mesmo nome entre janeiro de 2007 e dezembro de 2011. Mas ao terminar a leitura é impossível encaixar a autora na categoria dos que perderam a capacidade ou a coragem de se aventurar. Quem há de negar a coragem dupla de Valéria em, primeiramente, debruçar-se sobre si mesma a fim de desnudar em seu blog os receios e sentimentos por tantas vezes, e para tantos, inconfessáveis? E, como se já não fosse ousadia suficiente, eternizá-los em livro, perpetuando no papel reflexões que poderiam tornar-se fugazes e facilmente apagadas no meio virtual?
Mas Valéria cultiva a coragem de ser feliz, e para isso dar certo é preciso revelar-se. Revelar seus medos, angústias e os momentos de júbilo, inclusive: “Às vezes, acho que o ser humano tem mais dificuldade em lidar com a felicidade do que com a tragédia”, escreve. Cutucando de mansinho feridas que, mais do que pessoais são universais, o texto construído com firmeza e encantamento vem em ondas, arrastando para longe o temor de falar sobre determinados assuntos. Por vezes sentimos um constrangimento íntimo por reconhecermos em nós os deslizes diários que a autora enumera em si, temerosos em não parecermos perfeitos aos olhos do mundo. E então somos arrebatados pela ousadia e lucidez em pausar o tempo para observar essa realidade que ora nos assusta, ora nos inebria. Valéria nos força a olharmos para nós mesmos com olhos menos condescendentes, e faz isso de uma forma tão delicada que a agradecemos por isso.
Está tudo lá: as reflexões da autora, os amores, a literatura, o cotidiano, as viagens, o cinema e os amigos. E Valéria se encanta com cada um passagem, cada momento, seja de conquista ou de decepção: “Porém, quando o desfecho é diferente do que imaginamos, há um suave despencar do alto da montanha. Descemos rolando em câmara lenta, esbarrando numa pedra aqui, num arbusto ali, até chegar lá embaixo, onde ficamos estendidos por algum tempo no chão, respirando, absorvendo a experiência da queda, contemplando o céu, reunindo forças para levantar e olhar em volta: qual direção tomar agora?”
Os textos que compõem o livro são atemporais, ao contrário do poderia se supor de material originado de um blog. A autora capta o que existe de duradouro e inestimável nas experiências diárias, prolongando a pausa do tempo com palavras que acarinham e inspiram, mesmo nos momentos em que viver parece por demais doloroso. Valéria deseja ser dona do seu tempo, um sonho tornado realidade para poucos. E o primeiro passo é ter coragem para decifrar-se e ousadia para viver entre a liberdade e a solidão, que tantas vezes se entrelaçam em uma só. O convite está feito: que tal aprendermos a arte de prolongar a pausa do tempo?
A pausa do tempo
Valéria Martins
Editora Jaguatirica Digital
156 páginas
ESCREVA HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS
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