6 coisas que devem constar no início do livro.
Você teve a ideia para uma história, pensou nos personagens e em como será o final. Quando chega o momento de começar a escrever surgem as dúvidas: o que deve-se colocar logo de início? O que deixar de fora? Nem sempre é fácil saber a medida certa para não escrever de menos, que não prenda a atenção do leitor, nem escrever de mais, que acabe saturando-o com tanta informação. Para ajudá-lo a começar a escrever, este artigo traz 6 coisas que devem estar no início do livro.
O que colocar no início do livro
Algumas aberturas de livro são inesquecíveis, outras sequer são lembradas quando terminamos a leitura. Mas, em ambos os casos, se chegamos ao final é porque o início do livro cumpriu sua função: fisgar a nossa atenção. Não é necessário que seja memorável mas, sim, que seja instigante, que nos faça continuar virando a página ansiosos por descobrir o que vem pela frente. E, para garantir esse interesse, há alguns elementos que devem estar lá desde o começo, ajudando a amarrar as pontas – e a atenção do leitor. São eles:
Gancho
Por que o leitor deveria continuar a ler o seu livro? Qual o interesse dele na história? Pense nisso na hora de começar a escrever. Agarre essa primeira oportunidade de fisgar-lhe a atenção com algo que o instigue: um gancho. Mas o que é um gancho? Dê-lhe algo com o que se preocupar, pelo qual se interessar. Comece com alguma situação que suscite curiosidade. O gancho vem, na maioria das vezes, em forma de uma pergunta. Mas não uma pergunta genérica, do tipo “O que vai acontecer?”, e sim uma pergunta mais específica. Imagine um leitor no início de A metamorfose, de Kafka. ao ler: “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama transformado num inseto monstruoso.” Certamente pipocariam em sua cabeça perguntas como “Em que inseto monstruoso Samsa acordou transformado?” e “O que aconteceu para que ele acordasse transformado em um inseto?”. Não há dúvidas de que já foi fisgado e continuará a ler a história até o fim.
Personagem
Histórias são sobre personagens. Até mesmo quem diz escrever histórias cujo foco principal é a narrativa não pode prescindir de personagens bem construídos que façam a narrativa caminhar. O leitor se interessa pelos personagens, pelo que têm de semelhante ou diferente dele, em como reagem às situações. Por isso, quanto antes você introduzir o personagem na sua história, mais chance terá de fisgar o interesse do leitor. Comece com seu protagonista, dessa forma estará dizendo sobre quem é a história e com quem o leitor deve se importar e acompanhar ao longo da jornada. Há quem defenda que, se possível, o protagonista deve aparecer já na primeira linha – e de preferência com seu nome. Dê uma olhada na abertura de O poderoso chefão, de Mario Puzzo: “Amerigo Bonasera, sentado na Terceira Corte Criminal de Nova York, esperava justiça; vingança contra os homens que tão cruelmente maltrataram sua filha, que procuraram desonrá-la”. De cara ficamos sabendo o nome do personagem e o que ele está fazendo, temos um motivo para querer acompanhá-lo (um gancho): “Conseguirá ele vingar os maltratos que a filha sofreu?” e “Quem foi o responsável por isso?” É importante que o protagonista seja mostrado fazendo algo que ilustre algum ponto da sua personalidade. Neste caso, pode-se dizer que Bonasera era um homem que protegia sua família e corria atrás de justiça.
Cenário
Não deixe o leitor pensar que sua história se passa em um vácuo. Dê-lhe, desde o início do livro, conhecimento de onde está seu personagem. Qual o lugar e o tempo em que transcorre a narrativa. “No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis” – este é o início de O perfume, de Patrick Süskind. O tempo e o lugar são as primeiras coisas que nos são apresentadas, fornecendo informação suficiente para criarmos em nossa mente o cenário no qual acompanharemos a história desse homem genial e detestável.
Ação
Personagens estáticos não chamam a atenção. Eles precisam aparecer na história fazendo algo. A ação dá sentido de progresso à narrativa, de que a história caminha para algum lugar. Mas não é necessário começar com uma cena de ação digna dos filmes de perseguição. Às vezes ações contidas causam um grande efeito no leitor. O livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, começa assim: “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja.” Ficamos sabendo que em algum lugar há uma ação acontecendo, já que ouviu-se tiros. Mas que tiros são esses se não são “briga de homem não”? Só lendo para saber.
Razão para se preocuparem com o personagem
O início do livro é onde você vai estabelecer a conexão com o leitor, dar uma razão para que ele se preocupe com o protagonista. Dê um bom motivo e ele se importará com seu destino, sentirá empatia por ele e irá querer acompanhar sua trajetória. Você pode fazer isso começando a história em um ponto adiante e, ao longo da narrativa, mostre como a situação chegou àquele ponto. Veja o exemplo da abertura de Cem anos de solidão, da Gabriel García Márquez: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.” Somos apresentados ao Coronel Buendía e, ao mesmo tempo, ficamos sabendo que ele se encontra diante do pelotão de fuzilamento. Mas também somos introduzidos em uma lembrança do personagem, uma tarde em que o pai levou-o para conhecer o gelo, uma experiência que deve tê-lo marcado imensamente para ser lembrada em um momento tão decisivo. Queremos saber por que ele será fuzilado, o que terá feito de tão grave, mas também por que ver o gelo o marcou tanto. Que homem é esse que comete um ato capaz de levá-lo ao fuzilamento mas é capaz de deixar-se emocionar pela visão do gelo? Pronto, já estamos nos importando com ele.
Tom da história
Esse é o momento também de apresentar o tom da história. Que tipo de narrativa o leitor encontrará pela frente? Será uma história cômica, dramática, poética… O jeito como você escreve dá pistas do que pretende desenvolver. Então não comece fazendo gracinhas se não pretende manter o mesmo tom ao longo da narrativa. Isso só dará uma falsa impressão ao leitor, e acabará por frustrá-lo mais adiante. Quando lemos o início do livro O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger, já entramos em contato com o tom da história: “Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso.” Linguagem coloquial e um tom pouco amigável do protagonista revelam o tom que encontraremos até o final do livro.
Como você gosta de começar suas histórias? E que tipo de início mais o instiga quando lê um livro?
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