“O que há, pois, em um nome? O que se chama rosa, com outro nome teria o mesmo perfume.” Essa talvez seja uma das frases mais comentadas e analisadas do clássico Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare. E caberia muito bem como um epíteto para o primeiro volume do romance de fantasia Tigana – A lâmina na alma, do escritor canadense Guy Gavriel Kay, lançado pela Saída de Emergência.
Pode uma terra sobreviver mesmo que seu nome seja amaldiçoado a ponto de não poder ser lembrado ou mesmo pronunciado? Essa dúvida permeia toda a narrativa, que é considerada um marco da fantasia épica e seu autor tido um verdadeiro herdeiro de Tolkien. Conspirações, traições, um reino roubado de seu povo e a luta dos sobreviventes para terem de volta sua casa. E, em meio a tudo isso, magia. Uma poderosa magia colocada a serviço da vingança. “Setenta ou oitenta anos arquitetando uma obliteração tão completa que se assemelhava ao que os milênios havia feito às civilizações antigas, agora desconhecidas. Culturas inteiras que eram agora pouco mais do que o nome estranho de um lugar ou título pomposo – Imperador de Toda a Terra – decifrado num vaso quebrado.”
Em nome de Tigana
Tigana fala de vingança, de magia, de ambição, mas também fala de amor e da descoberta de suas origens. De um amor tão grande à própria terra que é capaz de sobrepujar qualquer ambição pessoal. E mostra como, fracos em nossas pequenas aventuras diárias, somos capazes de nos transformar e enfrentar os maiores perigos pelo direito de nos sentirmos novamente em casa. “A vingança do Rei de Ygrath fora além da ocupação, dos incêndios, dos escombros e das mortes. Ela englobara nomes e memórias, o tecido da identidade; era algo sutil e impiedoso.”
Um entre tantos méritos do livro é o de evitar apresentar os personagens de forma maniqueísta. São todos humanos, com seus erros e acertos, qualidades e defeitos. Até mesmo os tiranos são capazes de atos de bondade, enquanto os que foram traídos e estão lutando por reaver o que lhes foi tirado não relutam em usar meios pouco aceitáveis para alcançarem seu objetivo. A profundidade de sua personalidade, que acaba expondo suas dúvidas e incertezas, cria uma identificação com o leitor, mesmo que os desafios desse sejam um tanto menos épicos do que os da história.
Guy Gavriel Kay constrói uma história onde várias sub-tramas se entrelaçam criando um envolvimento cada vez mais intenso do leitor com a narrativa. De forma meticulosa, como um ourives que vai dando forma à preciosa joia, o autor lapida conflitos e emoções que, encadeados, resultam em uma obra densa mas sem as dificuldades de que se poderia supor. No caso da versão lançada no Brasil, o encantamento que o texto nos proporciona traz também o mérito da equipe de tradução, em seu cuidadoso trabalho de lapidar uma joia criada originalmente por outro ourives.
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