Cansado de receber “não” das editoras? Ou de nem receber uma resposta para o seu original enviado? Então conheça uma forma de publicação que está ganhando força por aqui. Já ouviu falar em crowdfunding? Apesar de muito utilizado lá fora, no Brasil ainda há muita gente que não conhece. Crowdfunding é um financiamento coletivo, um investimento em um projeto do qual o investidor recebe algum tipo de retorno. E esse projeto pode muito bem ser a publicação do seu livro. É o chamado crowdfunding literário.
Levado ao pé da letra, crowdfunding significaria “financiamento pela multidão”. Então, crowdfunding literário é a oportunidade de várias pessoas colaborarem, mesmo com pequenas quantias, para tornar realidade o sonho de alguém publicar um livro. Se este é o seu caso, então conheça abaixo a experiência de dois autores com esse processo, aproveite as dicas de cada um e insira o crowdfunding literário no seu planejamento de publicação.
Conheça o crowdfunding literário
A captação de recursos para o desenvolvimento de projetos sempre esteve ligada a empresas, que costumam patrocinar algo ou alguém tendo como contrapartida a divulgação de sua marca. O crowdfunding amplia esse conceito colocando o financiamento à disposição de pessoas que teriam dificuldade em conseguir um patrocínio empresarial, já que nessa modalidade qualquer um pode investir com pequenas quantias. Em contrapartida, quem investe recebe recompensas que variam de acordo com o valor investido, podendo ser um agradecimento nominal no livro, exemplares da própria obra ou outras opções, no caso do crowdfunding literário.
O conceito é o seguinte: você coloca o seu projeto em uma plataforma online de crowdfunding e diz quanto precisa arrecadar para torná-lo realidade. Os interessados – indivíduos ou empresas – fazem o investimento no valor desejado e tornam-se aptos a receber a recompensa relacionada. Se o projeto conseguir alcançar a quantia estipulada no prazo determinado, o site repassa o dinheiro ao autor da ideia ficando com uma comissão, que varia de plataforma para plataforma. Se a meta não for atingida, o dono do projeto não recebe nada e o site devolve o dinheiro para os investidores.
A concretização do projeto é de total responsabilidade de seu autor, bem como a entrega das recompensas. Além disso, outro elemento fundamental nessa equação é a divulgação, que também cabe a quem está apresentando a proposta. Como há um prazo definido para arrecadação, é preciso correr para conseguir bater a meta o quanto antes.
No Brasil, algumas das plataformas de crowdfunding mais conhecidas são: Catarse, Kickante, Benfeitoria, Ideame, Startando e Sibite. O site Catarse, apesar de não ser específico para crowdfunding literário, tem recebido muitos projetos de livros, tanto de ficção quanto de não-ficção. Os autores Adriano Renzi e Juliana Fiorese tiveram projetos bem-sucedidos na plataforma e compartilham sua experiência com a gente.
Que projetos vocês apresentaram no Catarse e como foi o resultado?
Adriano Renzi – Meu projeto foi o livro infantil Três gatas e a surpresa da tempestade. Escrevi o texto, desenhei as ilustrações, fiz o projeto gráfico, escolha e acompanhamento de produção gráfica, divulgação e envio dos livros. Um planejamento que foi muito além de apenas fazer o livro em si. O resultado foi conseguir atingir e ultrapassar a meta financeira em um mês de crowdfunding. Mesmo após finalizado o processo, hoje ainda recebo pedidos e os envio pelo correio.
Juliana Fiorese – Bom, eu tive a oportunidade de participar de dois projetos no Catarse; o primeiro foi o livro infantil Uma história mais ou menos parecida, escrito pela maravilhosa autora Márcia Paschoallin, onde entramos com nossos trabalhos e nos desafiamos para tentar fazer essa produção acontecer através de uma ferramenta até então desconhecida por nós duas. O segundo, e mais recente, foi o livro, também infantil, Os vestidos de Frida, escrito por Christine Ferreira Azzi. Ambos os projetos foram bem sucedidos, e conseguimos alcançar mais que as metas propostas.
No projeto, o que é responsabilidade do autor e o que é responsabilidade do site?
Adriano Renzi – A responsabilidade do Catarse é analisar o meu e outros projetos (curadoria) e expor os selecionados. O Catarse também é responsável pela manutenção e inicial do site para cada projeto, bem como pelo armazenamento de todo dinheiro coletado, através de parceria com o MOIP. Preparar, produzir e distribuir o livro foi de minha responsabilidade.
Juliana Fiorese – Primeiramente, minha responsabilidade é oferecer total comprometimento ao projeto durante os dois meses de captação, atendendo todas as necessidades e dúvidas dos apoiadores. Terminada esta primeira etapa, caso o projeto seja bem sucedido, é de entregar aos apoiadores cada recompensa que eles escolheram o mais rápido possível. Por sua vez, o site do Catarse oferece o espaço de hospedagem do projeto durante dois meses, e, depois de concluído, repassar o valor alcançado, com a exceção dos 13% que ficam com eles.
Como vocês definiram as recompensas? Existe algum tipo de orientação ou você teve total liberdade?
Adriano Renzi – Existem diversas sugestões de recompensa no tutorial do catarse que se pode acessar pelo site deles. Algumas sugestões são recompensas simbólicas, como autógrafos, e outras mais concretas, como camisa, botton, rascunho. Como eu me recuso a cobrar por autógrafo, eu parti do principio: se eu fosse o leitor consumidor, que itens eu gostaria de adicionar ao produto-livro e quais deles seriam possíveis para eu, autor, produzir? Daí veio a ideia de todas as recompensas serem relacionadas a desenho: (1) postal, (2) livreto com os rascunhos e estudos para o livro, (3) desenho pessoal meu e (4) aquarela original. Todas as recompensas fizeram bastante sucesso. O livreto de rascunhos foi principalmente procurado por outros profissionais desenhistas e alunos com interesse em ver como foi o processo criativo.
Juliana Fiorese – Os projetistas têm total liberdade na escolha das recompensas que irão apresentar para as pessoas. Nos dois projetos que participei, pensamos com carinho nas recompensas que seriam mais atrativas. É uma etapa bastante importante, pois esta será a forma de recompensar o valor pago antecipadamente pelos apoiadores.
Como foi o processo de arrecadação: estável ou com altos e baixos?
Adriano Renzi – A arrecadação é sempre decrescente: começa alto e vai diminuindo exponencialmente. Algo avisado no tutorial do Catarse. Era muito importante obter porcentagem alta nas 2 primeiras semanas para garantir o sucesso do projeto. Em termos de experiência, acho que só tive altos. O planejamento prévio foi muito cuidadoso e a campanha foi intensa. Cansativo pela quantidade de responsabilidade em minhas mãos para dar certo, mas com muitas alegrias dos apoios que foram surgindo e compartilhando o projeto. Amigos que ofereceram ajuda no processo inicial e durante a divulgação. Até algumas surpresas de apoios que eu não esperava.
Juliana Fiorese – Acredito que o processo de arrecadação vai de acordo com o trabalho de divulgação que é feito durante o período em que o projeto está no ar. Claro, mais ou menos no meio do prazo da campanha a tendência é “esfriar” um pouco mesmo. Pude perceber que os maiores picos de apoios efetivos acontecem no início e no final da campanha.
Para vocês, quais foram os pontos positivos e quais os negativos da experiência?
Adriano Renzi – O principal ponto positivo foi ter sucesso de um projeto só meu. Ver pessoas curtindo o projeto mesmo fora do ambiente virtual e perguntando como estava indo. Compartilhar uma história pessoal com diversas pessoas e ter retorno que amaram a história e os desenhos. Pessoas pedindo meu livro até hoje, muito depois da campanha ter acabado. Os pontos negativos que absorvi foram precedentes ao crowdfunding: foi descobrir que editoras não levaram fé que um ilustrador poderia saber escrever também; descobrir que meu livro não ser atrativo para objetivos de inclui-lo em editais do governo, como o PNBE, era um fator determinante para decidir investir ou não no livro.
Juliana Fiorese – Participar e acompanhar de perto todas as etapas necessárias para a produção de um projeto, desde o contato com os fornecedores até a entrega das recompensas aos apoiadores, é muito gratificante. Esse contato do criador do projeto com as pessoas que se interessaram pelo seu produto, vai além de uma relação de compra e venda, pois muitos dão feedback do quanto ficaram satisfeitos com os resultados e felizes com a experiência de também ter feito parte da realização do projeto. É uma experiência única. O lado negativo é que muitas pessoas ainda não conhecem a essência do crowdfunding, acreditando que esta é uma ferramenta de doação, o que acaba até confundindo, mesmo sem querer, outras pessoas que também não têm a informação. O Catarse é uma ferramenta que busca a realização de um projeto através da compra antecipada de um produto; mesmo se o projeto não for financiado, os apoiadores não perderão o valor de apoio, eles terão a opção de pegar o valor de volta, ou reverter para apoiar um outro projeto.
Que dica vocês dariam para quem quer utilizar o crowdfunding para publicar um livro?
Adriano Renzi – Planejamento e responsabilidade de tocar um projeto inteiro sozinho. Mesmo com ajuda de amigos, o planejamento central de gestão do projeto e produção é inteiramente responsabilidade sua. Portanto, planeje, faça protótipos, teste, conheça seu público.
Juliana Fiorese – A primeira dica é se informar bastante sobre como a ferramenta de financiamento coletivo funciona. Antes de colocar o projeto no ar, é importante fazer todo o planejamento do projeto; nesta etapa é fundamental fazer a escolha de cada recompensa, o valor que cada uma custará para apoio, fazer os orçamentos de tudo que será necessário para produção do livro e de todas as outras recompensas, calcular o valor dos fretes, etc.. Depois seguir o planejamento de como será feita a divulgação enquanto o projeto estiver no ar. E, por fim, se comprometer à entrega de todas as recompensas para os apoiadores no prazo que se estimou.
Novos projetos
Adriano Renzi – Tenho mais 2 histórias escritas, mas desta vez sobre cachorros. Ambas histórias também são bastante pessoais com cachorros da minha infância como protagonistas. Eu serei coadjuvante junto com outros humanos. Um deles já está até com alguns rascunhos feitos. Não sei quando farei para valer, pois precisei dar uma pausa por conta da campanha do livro dos gatos e do doutorado, que consome bastante meu tempo. Já o livro dos gatos eu ainda tenho alguns comigo. Ainda sou procurado por e-mail e facebook para comprar o que sobrou. Eventualmente vou buscar canais para distribuir o restante, mas não tenho tempo para ficar checando o que foi vendido. Tenho interesse em vender os direitos de publicação para uma editora interessada, mas sem me preocupar com o que foi vendido ou verificar porcentagem das vendas. Me pague X pelos direitos de explorar o livro por 3-5 anos. Ponto. Fica com o lucro do que foi vendido nesse período.
Juliana Fiorese – O meu próximo projeto, em parceria com o designer gráfico Vinicius Meira, estará em breve em financiamento coletivo no Catarse. O projeto “Amores – Uma evolução histórica” trata-se de um livro que conta a história do amor e dos relacionamentos dentro da sociedade desde o início da humanidade até os dias de hoje, além de reunir ilustrações de casais importantes da vida real, da mitologia, do cinema e da literatura. É um livro de arte e design, mas que também retrata o comportamento afetivo das pessoas, contando com muitas ilustrações presentes em torno de aproximadamente 168 páginas. O projeto ainda não está no ar, mas quem já quiser ir acompanhando as novidades, é só curtir a minha página no Facebook. Tenho postado lá, inclusive, algumas ilustrações que estarão no livro. Será mais voltado para o público jovem e adulto, ou quem se interessar por arte, ilustração, e história da humanidade. As ilustrações serão minhas e o design gráfico é de Vinicius Meira.
Quem quiser adquirir os livros dos dois autores financiados através do Catarse pode entrar em contato com eles pelo Facebook do Adriano e pelo Facebook da Juliana. E para conhecer mais sobre o trabalho deles é só visitar o site do Adriano Renzi e o site da Juliana Fiorese.
E então, o que achou do crowdfunding literário? Você utilizaria uma das plataformas de financiamento para publicar um livro?
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