É com um certo atraso que publico aqui a resenha do primeiro conto do desafio literário 12 meses de Poe, proposto pela Anna Costa. A ideia é ler um conto de Edgar Alla Poe por mês e depois compartilhar as impressões de leitura nas redes. Quer saber mais e participar dessa leitura coletiva? Então veja aqui o post original do projeto.
Estou fazendo a leitura dos contos propostos pela Anna – no post original ela disponibiliza um arquivo com os 12 contos. Mas quem não quiser seguir as sugestões pode fazer a sua própria lista. O conto que corresponde ao mês de janeiro, e cuja resenha trago hoje, é Metzengerstein. As resenhas serão publicadas sempre no mês seguinte do conto em questão. Espero que isso inspire mais pessoas a se juntarem ao desafio.
O primeiro conto de 12 meses de Poe
Metzengerstein, o conto que abre o calendário proposto para o desafio, é um perfeito exemplar da literatura de Poe. O clima de mistério paira o tempo todo sobre o conto, revelando e desvelando muito menos do que sugerindo – como é de seu feitio. O extraordinário, tão presente em sua obra, é elemento fundamental nessa narrativa. Que mágica seria capaz de conter uma simples tapeçaria para que figuras bordadas extrapolassem os limites do não real?
Poe começa seu conto falando diretamente com o leitor, trazendo-o para o seu lado e mantendo-o bem junto de si para o caso de não acreditar no caso que irá contar. E por que acreditaria, já que começa com uma antiga superstição húngara que tende fortemente para o absurdo? Mas o que seria um conto de Poe sem um bom absurdo a nos assombrar! E o modo intimista com que o autor leva essa conversa com o leitor, juntamente com o tom lúgubre, são responsáveis por nos remexermos na cadeira, inquietos, prontos a acreditar naquilo que tão veemente tentamos negar.
Eu poderia dizer que o conto trata de duas famílias em discórdia permanente, mas aí pensariam estar falando dos Montéquio e os Capuleto shakespeareniano. Nesse caso, os Berlifitzing e os Metzengerstein. Mas não é sobre essa rivalidade que escreve Poe. É muito mais do que isso. É um olhar penetrante sobre o que vai dentro de homens que comprometem uma vida inteira com discórdias que apenas acumulam rastros do ódio de cada lado.
É dos pequenos detalhes que são feitas as grandes mudanças, pois é desses detalhes que se ocupa o autor. Um quadro de tapeçaria, há tanto tempo exposto no gabinete, de repente revela-se instigante demais para ser ignorado. O jovem Barão Metzengerstein vê-se incapaz de desviar-lhe o olhar. O feitiço está nos olhos do dono ou no objeto amaldiçoado? Poe não nos dá respostas, sua literatura não pretende responder aos anseios e questionamentos mundanos. Ele apenas se diverte em nos trazer assombros de outrora e de outrem que assumem diversas formas. Aqui, em Metzengerstein, o que vemos é uma extraordinária afeição por parte do jovem barão pelas ferozes qualidades do cavalo que nem sempre fez parte desse mundo. Tirado de sua tapeçaria – por espontânea vontade ou força mágica de outro, nunca saberemos – o animal subverte com pleno domínio de sua malignidade a relação convencional entre montaria e homem.
O tal cavalo não é outro senão a montaria de alguém da família inimiga, os Berlifitzing, que fora derrotado por um Metzengerstein e cujo momento foi eternizado na peça decorativa. O que ninguém imaginaria é que tal animal, carregado sabe-se lá de que forças estranhas, seria capaz de materializar-se e dominar o rival de seu antigo senhor. Nesse embate entre o homem e o animal, nem sempre a aposta mais óbvia é a que se realiza. E, por fim, toma forma a antiga profecia: “Um nome elevado sofrerá queda mortal quando, como o cavaleiro sobre seu cavalo, a mortalidade de Metzengerstein triunfar da imortalidade de Berlifitzing.”
Interessou-se em conhecer mais sobre a literatura de Edgar Allan Poe depois de ler sobre o primeiro conto do desafio 12 meses de Poe? O livro Contos de Imaginação e Mistério traz 22 histórias do autor, entre conhecidas como “Os assassinatos da Rua Morgue” e “A queda da casa Usher” e outras nem tanto, como “Os fatos no caso do sr. Valdemar” e “Silêncio: uma fábula”. Você pode encontrá-lo nas livrarias abaixo:
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