Desde as narrativas antigas até os mais modernos filmes de super-heróis, histórias utilizam-se de uma infinidade de temas e formas para emprestar significado à experiência humana através dos tempos e das culturas – é o que aprendemos com Joseph Campbell, escritor e pesquisador da área de mitologia. Histórias bem construídas mostram a jornada do herói desde a sua inocência até o momento em que alcança a maturidade. Entre essas duas extremidades desenrola-se a trama propriamente dita, os conflitos, os obstáculos, as disputas, as perdas e, finalmente, os ganhos. Vamos aproveitar o filme Lego Batman para entender como se dá crescimento do protagonista ao longo da história.
*ATENÇÃO, ESTE POST CONTÉM SPOILERS SOBRE O FILME LEGO BATMAN.
Todo herói, ao iniciar a narrativa, tem um desejo externo e um desejo interno (ou necessidade). Desejo externo é o que o personagem quer alcançar, o que ele externaliza. Desejo interno é o que o personagem precisa, e na maioria das vezes ele não tem consciência disso. E, quando isso é verbalizado por outro personagem, ele provavelmente nega. A luta entre o desejo externo e o desejo interno do protagonista é o coração e a alma da história. O que o herói quer versus o que ele precisa.
O leitor deve se envolver com a jornada do persoagem. E a maneira como ele se envolve é por meio da busca dos objetos de desejo. Assim como fazemos na vida real. Por isso é importante ter objeto de desejo interessantes para ele. É preciso especificar exatamente o que ele quer e o que ele precisa. Se isso não estiver claro para você, não estará claro para o leitor.
No filme Lego Batman, o desejo externo do herói é fazer as coisas do seu jeito, ou seja, sozinho. Ele não quer ajuda de ninguém para derrotar os vilões. E Batman deixa isso bem claro, seja verbalmente quando diz “Eu trabalho sozinho”, seja por meio de seus atos, quando coloca seus amigos (Robin, Batgirl e Alfred) dentro de uma nave e os envia para longe do confronto com os vilões. Já o desejo interno, ou necessidade, do protagonista de Lego Batman é estabelecer e manter relações com outras pessoas, sentir que não está sozinho, deixar-se ser ajudado pelos outros. Algo que ele nega durante todo o filme.
Na vida real, estamos sempre empreendendo buscas rumo aos nossos objetos de desejo – e muitas vezes negando aquilo que realmente precisamos. Então, ao acompanharmos uma história, nos enxergamos no personagem, mesmo que o desejo dele seja diferente do nosso. O que é necessário é que as dificuldades para alcançá-lo sejam tão grandes quanto as que enfrentamos na vida real e o desejo do herói seja algo irresistível, que nos motive a acompanhá-lo.
Todas as dificuldades, obstáculos, conflitos, disputas e perdas que acontecem no desenrolar da trama contribuem para o amadurecimento do protagonista. É por meio do sofrimento que o personagem cresce, por isso não ceda à tentação de fazer o seu herói se dar bem logo no início ou no meio da narrativa, ainda é muito cedo para ele alcançar a redenção. O Batman do filme Lego, por exemplo, entre outros obstáculos vai parar na prisão e também na zona fantasma, onde ficam os vilões.
Próximo ao encerramento da história, como parte final do amadurecimento do herói, acontece o momento da auto-descoberta. É então que o protagonista toma ciência do seu desejo interno, de que sua verdadeira necessidade é bem diferente do desejo externo que acreditava ter que perseguir. Esse momento de auto-descoberta pode acontecer de forma solitária ou pode contar com a ajuda de outro personagem, que acaba abrindo-lhe os olhos para a verdade.
O momento de auto-descoberta do filme Lego Batman acontece de forma muito criativa, utilizando uma peça de Lego para fazer as vezes de mestre de cerimônias da zona fantasma e aquele que vai fazer o Batman enxergar seu verdadeiro desejo interno. No momento crucial da batalha contra os vilões, a peça de Lego mostra ao protagonista imagens passadas de como seus amigos (Robin, Batgirl e Alfred) têm sido importantes ao longo da sua vida, ajudando-o nas batalhas, comemorando as vitórias. Batman percebe que não deve afastá-los e, sim, trazê-los para trabalhar com ele na luta contra o mal. A maturidade do herói apresenta-se na forma de consciência de que não se pode viver sozinho, como ele vinha fazendo há tanto tempo. Seja nos bons ou nos maus momentos, os amigos são essenciais.
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