Prólogo: ter ou não ter, eis a questão

Você já deve ter lido ou ouvido por aí uma discussão sobre a necessidade, ou não, do prólogo em uma história. Há os defensores ferrenhos de que o prólogo mais atrapalha do que ajuda a narrativa, já há outros que acreditam que um prólogo bem escrito pode ajudar a envolver o leitor. E você, tem uma opinião formada? Pois o Conexão Autor vai apresentar hoje alguns argumentos a favor e contra o prólogo para ajudar a esclarecer essa questão. Então leia o post até o final e depois deixe nos comentários a sua opinião.

O que é um prólogo

Prólogo vem da palavra grega prólogos, que significa “antes” e “palavra”. O recurso literário foi criado pelo dramaturgo Eurípedes para substituir um primeiro ato explicativo. Diferentemente de outras seções introdutórias, como o prefácio e a própria introdução, o prólogo é uma extensão da história que se segue, escrito na mesma voz narrativa, e cujo conteúdo pode refletir em eventos, cenários e personagens do romance. É importante lembrar que o prólogo não é o primeiro capítulo, nem mesmo o início da história. Ele é o que vem antes e pode servir para prover determinadas informações importantes ao leitor que, de outra forma, não as teria dentro da narrativa, ou estabelecer o clima da história. É necessário que ele esteja diretamente relacionado ao que vem a seguir, e não uma oportunidade para você empurrar informações goela abaixo do leitor só porque não sabe onde colocá-las. Um ótimo exemplo de prólogo é o do livro Guerra dos Tronos, primeiro volume da saga Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin. Ali, o autor estabelece não só o clima como o próprio tema da história, deixando o leitor ávido por saber o que são aquelas criaturas e o que acontecerá a seguir, quando os personagens principais entrarem em cena.

Aliás, a presença ou não do protagonista no prólogo costuma provocar alguma confusão. Não, não é necessário que ele apareça nesse momento, mas deverá aparecer logo que começar o primeiro capítulo. Afinal, é com ele que queremos que o leitor estabeleça vínculos e se importe no decorrer da história. Muitos autores, inclusive, defendem que o ideal é que o prólogo seja escrito com outros personagens que não os que ocuparão a maior parte do romance, podendo ser útil para trazer um background da situação, prender o leitor com alguma questão que será respondida mais tarde ou apresentar a história a partir de um ponto de vista que não aparecerá novamente, dando assim uma perspectiva diferente ao leitor.

 

Por que escrever ou não escrever um prólogo

O principal motivo que os detratores do prólogo alegam para não usá-lo é que ele seria um falso início, levando o leitor a um equívoco. Explico: como foi dito acima, o protagonista deve ser apresentado o quanto antes ao leitor para que ele desenvolva empatia pelo personagem. É com ele que queremos que se importe, se preocupe, é por causa dele que irá acompanhar a história. Quando o leitor começa a se envolver com algum personagem que aparece no prólogo mas não é protagonista, ele ainda não sabe disso. Quando chegar ao primeiro capítulo, ele descobrirá que se envolveu emocionalmente com um personagem do qual provavelmente não terá mais notícias, fazendo com que se sinta traído. É como se ele fosse obrigado a iniciar a mesma história duas vezes, já que na maioria das vezes, são dois inícios: o do prólogo e o do primeiro capítulo. E, para muitos, não há nada que seja colocado ali que não possa ser inserido de alguma forma, mesmo que em flashbacks ou mudança de ponto de vista, ao longo da narrativa.

Sobre usar o prólogo para trazer elementos do passado do personagem, os que são contrários ao uso desse recurso dizem que é mais eficiente para a narrativa e o leitor se interessará muito mais pelo passado de um personagem se já estiver envolvido com ele. Caso contrário, será cansativo ler sobre eventos passados de alguém por quem não se tem nenhum afinidade. Da mesma forma, se um flashback for importante o suficiente para ganhar uma cena antes do início da história, então também é importante para merecer fazer parte da história propriamente dita.

Por outro lado, os defensores dizem que o fato de que escrever um prólogo possa ser desafiador e complicado, não significa que se for bem construído não possa desempenhar um excelente papel em fisgar o leitor. Basta fazer da maneira correta. Uma das justificativas é que, se inserir no meio da narrativa a informação que viria no prólogo, isso seria um violação das regras do ponto de vista da história – já o prólogo não necessariamente precisa usar os mesmos pontos de vistas utilizados no decorrer da trama. Outra situação é quando os fatos acontecem em outro tempo ou lugar e ficariam deslocados no meio da história, provocando uma sensação de estranhamento. Há também quem defenda que inserir muitos detalhes na narrativa podem sufocá-la e levá-la à morte – e isso levaria o leitor a largar o livro antes do fim, o que definitivamente não é o que queremos que aconteça. Portanto, o que um prólogo eficiente deve fazer é prender o leitor sem afastá-lo da história que ele está prestes a ler.

 

prólogo

 

Como saber se você precisa realmente de um prólogo

Se há situações em que o prólogo pode ser um grande recurso narrativo, o desafio então é identificar quando ele é necessário ou não. Existem algumas questões que você pode se fazer para descobrir se esse ele se aplica ao seu livro.

  •  Se eu o nomeasse como Capítulo 1, a história fluiria melhor? Se você respondeu sim, esqueça o prólogo.
  •  Eu realmente preciso dar essa informação do passado ao leitor para que ele aproveite melhor a história? Se você respondeu sim, mantenha o prólogo.
  • O recurso está sendo utilizado apenas para fisgar o leitor? Se você respondeu sim, há inúmeras formas de fazer isso no Capítulo 1, logo você não precisa de um prólogo.

Depois de dito tudo isso, chegamos a duas conclusões:

  1. A menos que seja absolutamente necessário, desista do prólogo.
  2. Se o prólogo é inevitável, faça-o curto, rápido de ler, com um gancho sólido e nada de longas narrações.

Criando um prólogo eficiente

Se você chegou à conclusão de que seu livro realmente precisa de um prólogo, então aqui vão algumas dicas de como construir um que cumpra a sua missão: seduzir o leitor para que ele siga para o Capítulo 1. Vale lembrar que não é necessário introduzir o protagonista já nesse momento (há quem defenda que o melhor é deixá-lo de fora), mas ele precisa ser apresentado ao leitor no primeiro capítulo. Seguem, então, alguns tipos de prólogos utilizados:

 

Ação
Esse prólogo começa com uma grande cena e é usado principalmente na ficção de suspense, muitas vezes envolvendo uma morte. Isso ajuda a estabelecer o tom e o tema da história. O primeiro capítulo, então, começará com o plot principal, que pode até ocorrer em algum ponto do futuro ou mesmo do passado em relação ao prólogo. Por exemplo: você pode ter uma cena em que alguém é morto e a história começará, no capítulo 1, com a investigação da morte. No caso, o protagonista é o investigador, que não apareceu no prólogo. Lembre-se de mantê-lo curto e finalizar com um problema, algo que precisa ser resolvido. Em algum ponto lá na frente, esse prólogo precisa se unir ao plot principal.

Moldura
Nesse tipo, temos o ponto de vista do próprio personagem que olha para o passado e introduz a história, estabelecendo para o leitor a sensação de que tudo o que aconteceu tem consequências que alcançam o presente e o futuro. Mas é importante não apenas fazer uma moldura para a história que começará no primeiro capítulo e, sim, trazer algo essencial para a narrativa e que envolva o leitor. E mostre como os eventos que se seguirão estão afetando o personagem agora.

Teaser
No teaser, você apresenta uma cena logo no início que acontecerá apenas mais tarde na história. É uma espécie de prévia de uma atração que está por vir, basta pensar nos trailers de filmes. É importante escolher uma cena que cause impacto no leitor, mas não resolva o conflito apresentado, deixe um mistério no ar. Afinal, você quer que ele fique se perguntando como aquilo aconteceu, ou com quem aconteceu, ou quais as consequências… Isso o fará continuar a leitura. A cena utilizada pode estar escrita com as mesmas palavras com as quais aparecerá no meio (ou final) da história ou você pode reescrevê-la para ficar levemente diferente.

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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