O Conexão Autor teve o prazer de receber para leitura em primeira mão o original de Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados, novo livro da autora Ana Cristina Rodrigues. Ana Cristina tem um longo caminho na literatura de Fantasia, seja com suas obras, seja com seu envolvimento no fortalecimento da área. Para quem gosta de literatura fantástica, e especialmente para quem aprecia histórias bem contadas, acompanhe o post para conhecer um pouco mais sobre esse Atlas fora do comum.
Um atlas onde os lugares não têm nome
“Vivemos da memória, que é a imaginação do que morreu; da esperança, que é a confiança no que não existe; do sonho, que é a visão do que não pode existir.” A citação de Fernando Pessoa ressoa a narrativa do Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados. Em um lugar e um tempo em que a realidade não é o que parece ser, cabe buscar na memória, na esperança e no sonho uma explicação e, quem sabe, uma justificativa para a própria existência. A memória, aliás, é o fio central que perpassa toda a história, mais pela sua ausência do que pela sua efetiva presência. Os seres não têm memória, os lugares não têm memória, a própria história perdeu sua memória – o próprio título já nos dá uma pista ao nominá-lo de Atlas Ageográfico. É aí que toma lugar a esperança e o sonho.
O cenário é o de pós-guerra. Mas uma guerra diferente, uma guerra que durou séculos entre os povos livres das feras e os humanos do Império da Morte. Do lado dos povos livres das feras, cuja liberdade e independência estavam no centro do embate, seres tão diversos quanto homens-morcegos, jaguares, minotauros, lontras, fênixes e o rei-quimera Gilgamesh IV, entre outros. Do outro lado, humanos utilizando-se, entre outras armas, dos poderes das necromantes para invadir e tomar Shangri-lá, cidade-estado onde os povos livres das feras se refugiaram.
Depois de um primeiro capítulo onde assistimos à derrocada final dos povos livres das feras acompanhando os últimos momentos de Maya, um ser morcego capitã da Guarda Externa, somos levados adiante no tempo quando já não há mais sinal algum do mundo que um dia existira ali. Nosso olhar é levado a acompanhar uma humana desmemoriada que busca descobrir quem é, um homem-morcego pagando pena pelo crime que cometeu e tentando salvar sua alma e um rei-máquina fugido da Cidade de Lata numa jornada pelo Deserto Sem Nome. O homem-morcego é ninguém menos do que Íbis, que fora capitão da Guarda Interna e Treinador dos Infantes do exército dos povos livres das feras, e pai de Maya. Durante a jornada, memória, esperança e sonho é o que move esses três companheiros inusitados.
Ao longo da narrativa do Atlas, Ana Cristina entrelaça de forma envolvente nuances macro e micro da história. Todos os personagens estão envolvidos tanto em conflitos externos quanto internos, num movimento que reverbera no pessoal os enfrentamentos dos combates universais – ou vice-versa. Um exemplo é Maya, que ao mesmo tempo em que tem um papel importante na defesa dos povos livres também enfrenta seus próprios embates, como a oposição do seu pai em relação à sua entrada no exército e sua controversa relação com um minotauro.
Mas não tende encaixar a história do Atlas em qualquer outro universo conhecido. O multiverso que Ana Cristina cria tem regras próprias, como todo bom universo fantástico. “Voar era proibido, dom reservado a quem tinha o dever de proteger. Por isso, em Shangri-lá os animais de asas viviam e morriam sem aprender. Só quem tinha coragem e se submetia ao teste, sendo aprovado, tinha esse direito.”
A trama move-se não só entre diversos locais, perdidos na memória e no tempo, quanto no próprio tempo. A autora vai costurando presente, passado e futuro, misturando flashbacks e alucinações e traçando um mapa que por vezes elucida, por vezes confunde – numa representação do que significa ser um Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados. Com uma escrita ágil e precisa, Ana Cristina utiliza uma história do melhor naipe da literatura de Fantasia para falar da memória, e de como ela pode ser tão somente uma criação para ocupar vazios que acumulamos ao longo de nossa existência. Uma leitura que nos presenteia com uma história envolvente e, a despeito das idiossincrasias das criaturas fantásticas, reverbera em cada um, sejamos seres humanos ou ferais.
E se você ficou ansioso para ler o Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados, pode ter uma amostra antes do seu lançamento. Ana Cristina Rodrigues lançou recentemente o livro Fábulas Ferais, com histórias curtas que mostram a luta entre as feras e os humanos pelo controle de Shangri-lá. Você pode encontrá-lo aqui.
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