Os maiores detetives do mundo: almanaque referência do gênero policial

A literatura policial é um universo inesgotável. Histórias instigantes, uma legião de autores espalhados pelos mais diversos países e épocas, detetives incríveis – cada qual com suas particularidades… Daria para passar a vida só se deleitando com esse único gênero. Essa imensidão de obras pode fazer com que não se consiga acompanhar tantos detetives da literatura, e às vezes nem saber por qual autor foram criados. É por isso que uma obra como Os maiores detetives do mundo, de Chris Lauxx, é tão fundamental.

Neste post vamos falar sobre a obra e também conversar com Ana Paula Laux, metade feminina da dupla autora do livro.

De pai para filha

A literatura dita adulta entrou em minha vida de uma forma muito especial. Quando criança, eu vivia em uma pequena cidade do sul do país. Meu pai sempre foi um leitor ávido, e isso me inspirou a querer ler desde cedo, muito antes mesmo de eu ser alfabetizada. No entanto, na minha cidade não havia livrarias. Meu pai, então, ficou sócio do Círculo do Livro, um clube do livro por catálogo. A cada mês eu escolhia uma obra da seção infantil até que, em determinado mês, não havia mais nenhum livro infantil que eu não tivesse lido.

A solução do meu pai foi pegar um livro dele para que eu lesse. O livro era O segredo de Chimneys, de Agatha Christie, e tinha na capa um corpo ensanguentado sobre um fundo branco. Assustada, perguntei: “Pai, mas eu só tenho 11 anos. Posso ler esse livro?”. Ele explicou que o sangue era apenas na capa e que a literatura de Agatha Christie não era nem um pouco sanguinolenta. E foi assim, por meio da obra da Rainha do Crime, que adentrei a literatura adulta.

Desde então, o gênero policial tornou-se um dos meus favoritos – com uma predileção justamente por Agatha Christie. Tanto que, depois de já ter lançado livros para o público infantil e adulto, resolvi escrever uma história juvenil… de mistério. Ou seja, com jovens detetives. E foi no processo de pesquisa que deparei-me com Os maiores detetives do mundo, uma obra de referência imprescindível para quem é amante do gênero.

Os maiores detetives do mundo reunidos em um só lugar

O livro Os maiores detetives do mundo é um desdobramento da pesquisa de conclusão do curso universitário de Ana Paula. Posteriormente, foi ampliado juntamente com Rogério Christofoletti, a outra parte da dupla. O livro segue o formato de um almanaque: por ser um compêndio dos grandes detetives que habitam e habitaram a literatura, o cinema e a televisão, tanto pode ser lido de forma sequencial (como eu fiz) quanto servir como material de consulta permanente (o que pretendo fazer).

Começando com Edgar Allan Poe e as origens do suspense, o livro segue apresentando os detetives e seus respectivos autores. Há capítulos inteiros dedicados aos mais famosos, como Sherlock Holmes – criado por Arthur Conan Doyle – e os detetives criados por Agatha Christie – os mais conhecidos sendo Hercule Poirot e Miss Marple.

Já outros capítulos seguem outro tipo de classificação: há um dedicado aos detetives da Idade de Ouro, outro aos detetives do romance noir e pulp fictions, aos famosos na TV, nos quadrinhos, no cinema e um capítulo dedicado especialmente às criações brasileiras, entre outros. Cada capítulo traz uma apresentação do detetive (ou detetives), uma pequena biografia do autor, outros personagens que fazem parte do universo daquele detetive, as adaptações para TV, cinema, teatro, quadrinho e games, as frases mais célebres do detetive em questão e a relação de obras em que ele aparece. E por último, mas não menos importante, o livro traz uma linha do tempo valiosíssima com todos os detetives, que é pra gente não se confundir com as épocas. Trabalho de fôlego, hein?

Mas se engana quem pensa que, devido ao formato de obra de referência, a leitura pode tornar-se enfadonha. Pelo contrário. O texto flui maravilhosamente não apenas pelos dados de grande valor que apresenta mas também pela linguagem fluida e divertida que a dupla impinge. Aliás, o próprio pseudônimo criado para assinar o livro é uma referência ao autor de um dos detetives que aparecem no livro – ou melhor, dois. Joona Linna é um detetive sueco que surgiu em 2009 pelas mãos de Lars Kepler, pseudônimo do casal de escritores Alexander e Alexandra Coelho Ahndoril. Assim como os autores desse Os maiores detetives do mundo fizeram ao criar Chris Lauxx.

Com a palavra, Ana Paula Laux

Ana Paula é jornalista e trabalha com mídias sociais e gestão de conteúdo na Internet – e também é apaixonada por Agatha Christie. Ela mantém o site Literatura Policial, referência em conteúdo sobre mistério, suspense e terror. Conversamos com ela sobre a criação do livro e, claro, literatura policial.

Como foi seu primeiro contato com a literatura policial?

Ana Paula Laux – Meu primeiro contato foi quando criança, lendo os livros da Coleção Vagalume (Marcos Rey era meu favorito). Agatha Christie mesmo eu fui ler só com 17 anos, uma edição antiga de Depois do Funeral que encontrei na estante da minha mãe. Sherlock Holmes acho que depois dos 20 anos, aí comecei a ficar mais interessada em literatura policial.

O livro foi escrito a quatro mãos com Rogério Christofoletti. Quais são os pontos positivos e os pontos negativos de dividir o processo criativo com outra pessoa? Como foi a dinâmica de escrita de vocês?

Ana Paula Laux – É bom poder dividir o trabalho da escrita com alguém, este é um e-book cheio de detalhes e um acaba ajudando o outro na hora de revisar, ver se ficou faltando alguma coisa. Nesse caso não me lembro de nenhum ponto negativo já que era um livro mais técnico no estilo almanaque, mas acho que deve ser mais difícil dividir a autoria de um romance policial, concordar as ideias e direcionamentos dos personagens, essas coisas.

É uma obra de fôlego com a um objetivo ousado: apresentar um compêndio dos maiores detetives do mundo. Conte um pouco sobre as dificuldades e as surpresas do processo de pesquisa.

Ana Paula Laux – Uma das maiores dificuldades foi encontrar material de autores que não foram publicados no Brasil ou com livros fora de catálogo faz tempo. Principalmente aqueles mais antigos, do começo do século 20, por exemplo, muita informação eu só encontrei em inglês mesmo.

Você tem um site que é referência em literatura policial. Ao longo desses quase sete anos de existência, você viu alguma mudança no papel da literatura policial no cenário literário brasileiro?

Ana Paula Laux – Com certeza, a literatura policial vem conquistando cada vez mais espaço no Brasil. É um dos gêneros mais amados entre os leitores, a gente vê o quanto tem de adaptações pro cinema, pra séries, como recentemente aconteceu com Lupin, na Netflix, que puxou um imenso interesse para os livros do Maurice Leblanc. Nestes sete anos houve conquistas importantes como a fundação da ABERST, que é uma associação especialmente dedicada aos escritores de romances policiais, de suspense e terror. E frequentemente vejo autores nacionais de suspense com livros entre os mais vendidos, gente como Claudia Lemes, Raphael Montes, Victor Bonini. Então acho que só tende a crescer o interesse dos leitores pelo gênero do mistério, do policial.

A pergunta que não quer calar: você já leu pelo menos um livro de todos os detetives citados na obra?

Ana Paula Laux – Gostaria, mas não rs! Não li livros de todos os citados porque alguns são muito difíceis de achar, como Wilkie Collins, Josephine Tey. Muitos são citados como referência por causa da pesquisa cronológica mesmo.

Se, a partir de hoje, você só pudesse ler histórias de um desses detetives, qual seria e por quê? O que te fascina nele ou nela?

Ana Paula Laux – Eu leria as história do Poirot em looping! Sou apaixonada pelos livros da Agatha Christie, ela permanece sendo minha autora favorita, existe uma mágica nas histórias dela que se mantém. Gosto do Poirot porque, além de ser um personagem inteligente, é muito bem humorado. Me divirto com as manias dele.

Por que ler literatura policial?

Ana Paula Laux – Porque é um dos gêneros que mais reflete a natureza humana, tem mistério, tem ação, tem humor, é um coquetel de emoções ler um romance policial. Sem contar que abre portas para o leitor se interessar por outros gêneros. A gente acaba se apaixonando facilmente pela leitura através dos livros de mistério.

Quem quiser se divertir e aprender um pouco mais sobre os maiores detetives do mundo, o livro pode ser encontrado na Amazon.

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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